A cidade de Manchester, na Inglaterra, é famosa por suas numerosas
e riquíssimas bibliotecas. A de John Ryland, por exemplo, formada por
uma coleção do segundo duque de Spencer e pelos antiquíssimos
manuscritos do duque de Crawford, contém incunábulos renascentistas,
bíblias do tempo de Gutenberg e obras de luxo que remontam ao século
XVII. Existem muitas outras, especializadas, como a de História Local,
a Judaica, a Americana e a de Coleções Especiais. Particularmente
importante é a que fica num edifício de pedras em estilo gótico
à Rua Chenel, no subúrbio de Chetham. É a mais antiga
biblioteca pública da Inglaterra, pois foi fundada em 1653 pelo testamento
do comerciante Humphrey Chetham.
Todas elas certamente formaram uma tradição que se fez pesar
na escolha de profissão do Sr. Thomson, típico pequeno burguês
da cidade. Ele fundou uma livraria muito conceituada, tanto que passou a ser
freqüentada por muita gente importante, como o famoso físico Joule,
ao qual um dia apresentou seu filho.
O orgulho do livreiro era um jovenzinho de catorze anos, em cujos olhos assustados
se podia perceber uma inteligência superior. Tinha nascido a 18 de dezembro
de 1856 e recebido o nome de Joseph John.
A mãe parecia ter saído das páginas de um romance de
Dickens; tímida, de pequena estatura, grandes olhos negros e maneiras
muito amáveis. Apesar de aparentemente frágil, teve forças
para cuidar sozinha da educação do menino, após a prematura
morte do pai, antes dos quarenta anos.
Pouco antes disso, o Sr. Thomson tinha matriculado o adolescente na melhor
escola de Manchester, o Owens College. Ali ele poderia receber ótima
educação a fim de preparar-se para estudar engenharia, carreira
que sempre o pai lhe desejara.
Com muito esforço e sacrifícios pessoais, a mãe conseguiu
fazer prosseguir os estudos do rapaz e viu coroado de êxito seu empenho
quando J.J., como viria a ser chamado por toda a vida, se diplomou brilhantemente
em Owens, tendo inclusive publicado um trabalho sobre o fenômeno da
eletrização por contato.
Por ter sido excelente aluno, um dos professores sugeriu-lhe que tentasse
o ingresso no célebre Trinity College, em Cambridge. Da primeira vez
não foi bem sucedido, mas no ano seguinte, 1876, recebeu uma bolsa
de estudos que lhe permitia viver, ainda que modestamente. Sensibilizada pelo
estudante pálido e magro, modesto e gentil, que varava as noites devorando
livros, a dona da pensão que o abrigava cuidava de aquecer-lhe o quarto
contra os rigores do inverno.
Cambridge significava para J.J. não apenas um excelente meio de desenvolvimento
intelectual, mas também de ascensão social para quem, como ele,
viera da classe média.
E foi, provavelmente, essa inclinação que o fez participar
brilliantemente do famoso "mathematical trips", exame que tinha
caráter de competição esportiva, revelando o aspecto
um pouco escolástico adquirido pela disciplina em Cambridge. Para essa
maratona intelectual, J.J. preparou-se com afinco durante três anos
e obteve o segundo lugar, provavelmente por causa de sua lentidão no
escrever.
Prêmio mais significativo recebeu anos depois, em 1883, por seu trabalho
sobre movimentos vorticosos. Era o Adam's Prize, e mareava o início
de suas preocupações com a estrutura do átomo.
Essas preocupações desenvolveram-se muito quando passou a trabalhar
na determinação da unidade eletromagnética e eletrostática
no laboratório Cavendish, sob direção de Lord Rayleigh,
ao qual viria suceder em 1884. Resultado desse trabalho foram as Notes on
Recent Researchs in Electricity and Magnetism, publicadas em 1893 e que constituem
uma seqüência dos dois volumes do Treatise on Eleciricity and Magnetism
de Maxwell, chegando mesmo a ser considerado seu terceiro volume.
Em 1895 vêm à luz os Elements of the Mathematical Theory of
Electricity and Magnetism. Um ano depois está na Universidade de Princeton
proferindo uma série de conferências em que aborda os fenômenos
produzidos pelas descargas elétricas nos gases.
Tubo de raios catódicos |
Era chegado o momento em que iria comunicar sua maior obra como investigador
experimental. Ela começara no laboratório Cavendish quando se
dedicava aos gases rarefeitos. Os estudos sobre as descargas através
desses gases tinham conduzido à descoberta de uma radiação
que emanava do tubo de descarga, propagava-se em linha reta, era detida por
um obstáculo fino e transmitia um impulso aos corpos contra os quais
se lançava. Foram chamados de raios porque se propagavam em linha reta,
e católicos porque pareciam emanar do cátodo da descarga elétrica.
Os pesquisadores ingleses achavam que a radiação era de natureza
corpuscular. Isso porque Crookes tinha descoberto que a trajetória
dos raios se curvava quando em presença de um campo magnético.
Além disso, Perrin tinha descoberto que transportavam carga elétrica
negativa. Ao contrário, os alemães, especialmente Hertz, sustentavam
seu caráter eletromagnético.
Thomson estava decidido a defender a teoria corpuscular partindo para a experimentação.
Após sucessivas tentativas, conseguiu medir a razão carga /
massa dessas partículas e descobriu que seu valor era aproximadamente
mil vezes maior que o observado na eletrólise dos líquidos.
Imediatamente procurou medir a carga de eletricidade conduzida por vários
íons negativos, e chegou à conclusão de que era a mesma
tanto na descarga gasosa quanto na eletrólise. Constatava-se, assim,
que as partículas constituintes dos raios catódicos eram muito
menores que qualquer átomo conhecido, por pequeno que fosse: eram os
elétrons.
Átomo de Thomson |
Essa descoberta contou com a colaboração de muitos outros cientistas
como Wiecher, Perrin, Kaufmann, Townsend e Wilson. Mas foi Thomson o primeiro
a intuir que os elétrons são corpúsculos dotados de carga
elétrica e de massa e, principalmente, que fazem parte de toda matéria
do Universo. Formulou uma teoria sobre a estruturado átomo: Para ele,
o átomo era uma esfera maciça com carga positiva. Os elétrons
estariam presos à superfície da esfera e contrabalançariam
a carga positiva. Esse modelo ficou conhecido como "pudim de massas",
e seria mais tarde substituído pelo modelo de Rutherford, discípulo
de Thomson.
A primeira vez que anunciou o resultado de suas investigações
foi numa conferência na, Royal Institution, a 30 de abril de 1897. Dois
anos depois, num congresso realizado em Dover, expôs suas idéias
a numerosos colegas, encontrando porém muita hostilidade e pouco crédito.
Isso acentuou uma certa tendência para o trabalho independente, embora
sempre aconselhasse os alunos a trabalhar em equipe.
Foi, porém, com muito espírito de equipe que dirigiu o laboratório
Cavendish, depois da saída de Lord Rayleigh. A eleição
foi muito dificultada por outros pretendentes, devido à sua pouca idade.
Não tinha completado trinta anos - e os cientistas mais velhos julgavam
ter maior merecimento para cargo tão cobiçado.
Apesar de tudo, foi eleito e o laboratório sofreu grandes transformações.
A pesquisa deixou de ser um problema pessoal de cada um, tornando-se trabalho
coletivo. A colaboração de estudiosos de outras universidades,
inclusive estrangeiras, foi incrementada. Rutherford, Townsend, Langevin,
Wilson, Barkla, Aston, Bragg e Appleton ali realizaram pesquisas relevantes.
Thomson não só acompanhava os estudos de cada um, como favorecia
as discussões e trocas de idéias em grupo.
Thomson em seu laboratório |
Não descuidava, entretanto, de comunicar as descobertas, o que fazia
sempre em prosa elegante nos vários livros publicados. Em 1903, aparece
a Conduction of Electricity through Gases, onde relata investigações
que lhe valeram a obtenção do prêmio Nobel em 1906.
Não pararam aí suas contribuições para a história
da física. Extremamente importante foi a descoberta de um novo método
para a separação de diferentes espécies de átomos
e moléculas. Consistia em usar íons positivos cuja deflexão
num campo magnético ou elétrico varia com a massa atômica.
Esse método levou à descoberta de muitos isótopos, quando
empregado por pesquisadores como Aston, Dempster e outros. Teve também
como resultado a possibilidade de calcular a difusão das radiações
eletromagnéticas que atingem os elétrons dos átomos.
É hoje chamada teoria do espalhamento de Thomson.
Quando a Europa foi conturbada pela Primeira Guerra Mundial, Thomson foi
obrigado, juntamente com outros cientistas, a dedicar-se às pesquisas
militares. Para perturbar ainda mais seu trabalho como investigador puro,
teve que deixar a direção do laboratório Cavendish por
ter sido eleito presidente da Royal Society e diretor do Trinity College.
Todas essas novas tarefas não eram de seu gosto. O que o interessava
mesmo era a pesquisa científica experimental.
Não tinha outros interesses culturais, e ninguém se recorda
de citações literárias em seus escritos. Talvez porque
não ultrapassasse o nível dos escritores policiais e dos romancistas
vitorianos, apesar da livraria do pai e das magníficas bibliotecas
de Manchester, que conheceu na infância. Em matéria de música
era pior ainda: à música erudita preferia as operetas.
Outro aspecto de sua personalidade não combinava com a estatura do
cientista: a exagerada parcimônia e espírito de lucro. Sabia
operar na Bolsa muito bem, transformava em fonte de lucro até um "hobby",
vendendo a alto preço uma excelente coleção de flores
do campo que cultivara. Os colegas reclamavam porque não era nada generoso
nas ajudas financeiras ao laboratório, sempre necessárias.
Era, porém, fisicamente muito forte e ativo, jamais caindo doente
até os sessenta anos. Corno bom inglês amava as longas caminhadas
e as partidas de "rugby". Em tudo revelava um temperamento extrovertido
e individualista ao mesmo tempo. Entusiasmado com todos os empreendimentos,
afável com todas as pessoas, alegre nas reuniões, tudo isso
formava uma pessoa indiscutivelmente simpática.
Foi certamente essa simpatia, aliada ao prestígio como cientista e
professor, que cativou uma estudante de física chamada Rose Paget.
A ligação entre os dois, no entanto, não foi livre de
angústias e frustrações. J.J. não podia casar-se
como membro do College, e teve que esperar até 1890, quando a obsoleta
proibição foi suspensa.
A partir daí a vida do casal foi extremamente fecunda, tanto que resultou
em outro cientista notável, o filho George, colaborador do pai e ganhador
do prêmio Nobel de física, em 1937.
Três anos depois, no dia 30 de agosto de 1940, terminava a longa existência
daquele que fora um dos iniciadores da era nuclear, para a qual contribuíra
de maneira decisiva quando, meio século antes, descobriu o elétron.
Fonte do texto e das imagens: www.saladefisica.com.br
Tenham todos um ótimo dia!
E, é claro, um FELIZ DIA DOS PAIS aos papais queridos, em especial ao meu pai e, é claro, ao meu marido, um pai mais que exemplar!!
E, é claro, um FELIZ DIA DOS PAIS aos papais queridos, em especial ao meu pai e, é claro, ao meu marido, um pai mais que exemplar!!
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Obrigada pela visita e pelo comentário!
Quimiloko honorário volta sempre!!
hehehe!