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Inquisição e Bruxaria - continuação texto "Um Breve História da Química"


INQUISIÇÃO E BRUXARIA

“A época do Renascimento foi uma das épocas menos dotadas de espírito crítico que o mundo conheceu. Trata-se da época da mais profunda e grotesca superstição, da época em que a crença na magia e na feitiçaria se expandiu de modo prodigioso, infinitamente mais que na Idade Média.”                                                                                                                          Koyrè


           A Inquisição tinha como função primordial inquirir ou investigar toda e qualquer opinião ou doutrina contrária ao ensinamento oficial da Igreja, e nasceu da necessidade de combater os hereges, que se multiplicavam na Europa ocidental a partir do século XIII. Inicialmente confinada a tribunais ordinários, a Inquisição tornou-se, em 1231, por delegação papal, especialidade dos dominicanos, que tinham independência quase total na repressão das heresias.
                        A bruxaria e a demonologia apareceram, paradoxalmente, no mesmo momento em que a Revolução Científica transformava a maneira de a humanidade pensar, migrando de uma concepção geocêntrica para a heliocêntrica, deixando também, com isso, de ser antropocêntrica.
                        Na Europa, no período que vai de 1550 a 1650, há uma verdadeira “epidemia de bruxaria”, justamente quando explode a Ciência Moderna. Assim como o Cristianismo não venceu o Paganismo, e muito dele incorporou, a Ciência não derrotou a magia.
                        Para lutar contra o mau da bruxaria tanto a Igreja Católica quanto a protestante organizaram uma verdadeira cruzada de “caça as bruxas”.
                        Era uma época em que a crença nos maleficium, danos provocados por meios ocultos, eram fatos corriqueiros. Os supostos atos de malefício despertavam a raiva do povo. Naqueles dias, nem a Igreja nem as autoridades seculares perdiam tempo perseguindo bruxas. Embora muitos malefícios violassem a lei civil ou eclesiástica, havia bem poucos processos por tais ofensas antes do século XIV. Na verdade circulavam rumores de que os próprios clérigos estivessem envolvidos com a feitiçaria, ou ao menos com as práticas ocultas mais elevadas, conhecidas como rituais mágicos; e já que os clérigos figuravam entre os poucos com capacidade para ler os antigos livros de magia, tais suspeitas eram compreensíveis.
                        A atitude dos europeus em relação à bruxaria começava a mudar e haveria um tempo em que qualquer bispo católico, no lugar de deter-se para salvar suspeitos de bruxaria, provavelmente estaria enviando centenas deles para a morte. A partir do século XIV, o continente testemunharia um frenesi de ódio e uma homicida caça as bruxas que ceifaria a vida de milhares de inocentes durante aproximadamente trezentos anos. Alastrando-se como fogo, a fúria se desencadearia primeiramente num lugar, depois em outro, até incendiar a vida civilizada – França, Itália, Alemanha, Países Baixos, Espanha, Inglaterra, Escócia, Áustria, Noruega, Finlândia e Suécia, e, por breve período, saltaria o Atlântico, inflamando até o Novo Mundo.
                        Quando a caça as bruxas invadia uma cidade, seus horrores marcavam quase todos os aspectos da vida do lugar. Ninguém estaria a salvo! Em inúmeros tribunais civis e nas temidas cortes da Inquisição, a acusação era sinônimo de condenação, e a condenação, uma sentença de morte. Flageladas e mutiladas pelos torturadores, a carne dilacerada e os ossos quebrados, as infelizes vítimas confessavam coisas que hoje parecem uma mistura absurda de acusações sérias e tolas. Os que tivessem sorte seriam decapitados ou mortos de maneira relativamente mais humanas antes que seus corpos fossem reduzidos a cinzas em fornos. Mas os mais azarados eram queimados vivos – em fogueiras de madeira verde para que a agonia se prolongasse – caso cometessem transgressões que despertassem irritação ainda maior, como, por exemplo, renegar a própria confissão.
                        Quando a carnificina atingiu o auge nos domínios germânicos, em meados de 1600, povoados inteiros eram dizimados de uma só vez.
                        A Igreja foi a principal responsável pelas mudanças nas atitudes das pessoas e na política oficial que resultaram na grande caçada as bruxas. Depois da queda do Império Romano, a Igreja era a única instituição com força suficiente para manter algum tipo de ordem e universalidade cultural na Europa ocidental. Mesmo quando o poder de Roma declinou, missionários cristãos, como são Patrocínio e são Bento viajaram pelo império e além de seus limites, propagando o Evangelho tanto para os colonizadores como para os assim chamados bárbaros. Os missionários fundaram monastérios nos quais dedicados estudiosos podiam se retirar da turbulência mundana para manter acesa a frágil chama do conhecimento. Na própria Roma, o papado realmente se fortaleceu na medida em que se esvanecia a autoridade secular. Assim quando os germanos conquistadores marcharam sob o arco imperial Trajano, muitos de seus líderes já haviam se convertido ao Cristianismo.
                        Com o passar do tempo, a influência da Igreja tornou-se mais abrangente. No entanto, muitos dos que se declaravam cristãos no norte da Europa ainda se mantinham fiéis a certas crenças pagãs de seus antepassados. Até as práticas mais comuns, tais como: usar amuletos, ler horóscopos e dizer encantamentos para curar enfermos, deviam ser execradas como aberrações demoníacas. Portanto, parecia natural que os indesejáveis curandeiros, videntes e feiticeiros, bem como os alquimistas, fossem condenados como participantes das demoníacas hostes do diabo.
                        Por mais irônico que pareça, durante muitos séculos o que mais atormentou a Igreja não foram às bruxas, mas sim um outro inimigo. Ainda pior que o paganismo, do ponto de vista dos sacerdotes, era a heresia – variações na doutrina ou lapsos na crença desautorizados pela Igreja, que podiam originar cismas. Desde o início do cristianismo, diversos tipos de rebeldes eclesiásticos indispunham-se com a hierarquia central, rompendo com ela para formar suas próprias seitas. Esses grupos dissidentes deram início a novas seitas na Turquia e na Armênia e, na tentativa de eliminá-las, a Igreja imputava-lhe um número fantástico de acusações, tais como adorações ao demônio, incesto, infanticídio e canibalismo.
                         Multiplicaram-se as prisões...Todos que reclamassem da perseguição às bruxas não tardavam a incluir-se entre os prisioneiros. Os inquisidores declaravam que apenas as bruxas se opunham às fogueiras e, portanto, todos que as contestassem também seriam queimados.
                        Na medida em que a Igreja católica acelerava sua campanha para libertar o mundo das feiticeiras, seu principal inimigo terreno transformou-se em seu aliado. No século XVI a Reforma protestante consumara aquilo que todas as dissidências anteriores não haviam conseguido: dividir o movimento cristão da Europa ocidental em dois campos antagônicos. Mas Martinho Lutero, cujos ataques contra a corrupção da Igreja haviam provocado a cisão, não discordava das autoridades da Igreja romana com relação à feitiçaria: considerava as bruxas tão perigosas quanto acreditavam os católicos. João Calvino, seu companheiro protestante, também não revelava tolerância maior para com as bruxas: como Lutero, via nelas apenas o perigo. Nas outras partes da Europa, a perseguição às bruxas continuava a se inflamar, alastrando-se por todos os lugares. Em 1579, o Concílio da Igreja de Melun declarava:
                        “Todos os charlatães, adivinhos e outros que pratiquem necromancia, piromancia, quiromancia e hidromancia serão condenados à morte.”
                        Todo o horror dos julgamentos por bruxaria e suas desastrosas conseqüências na economia da Europa inevitavelmente levaram a uma reação por parte daqueles que tinham coragem suficiente para opinar: na Alemanha, Friederich von Spee(século XVII), Johan Weyer(1563); na Itália, Samuel de Cassini(1505); na Espanha, Alonso Salazar de Frias(1611); na França, Gabriel Naudè(1625);na Holanda, Balthasar Bekker(1691) e, na Inglaterra, Robert Calef(1700).
                        A essa altura, a obsessão pelas bruxas já começava a fenecer na Europa. Comerciantes e governantes viam-na como um problema para a economia. Os intelectuais percebiam que tudo aquilo era irracional e inconsistente, contrário à nova    mentalidade científica que começava a despontar e que seria mais tarde conhecida como Iluminismo.
                        Mesmo que a Igreja e o Estado tivessem abdicado da perseguição, o medo e o ódio cuidadosamente alimentados por essas instituições durante séculos a fio não foram imediatamente erradicados. Muito tempo após os últimos tribunais, relatos de ataques contra supostos feiticeiros, surgiam ocasionalmente nas regiões rurais da Europa, onde perduravam velhas crenças.

                        Talvez episódios turbulentos, alguns ocorridos recentemente, em pleno século XX, sejam apenas o estremecer de uma força que já pereceu, como se fossem os espasmos musculares involuntários que continuam após a morte de um animal. Isto certamente é uma opção preferível a outra possibilidade que essa analogia sugere: que o monstro caçador de bruxas não está morto, mas apenas se agitando enquanto dorme.
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ALGUMAS SUGESTÕES, para conhecer mais sobre o assunto, através das mídias:

Filmes:  "O Físico" (“The Physician”)
                 “O Violino Vermelho”.
                 “O Perfume – a história de um assassino”.
                 “Cruzada”
                 “Harry Potter e a Pedra Filosofal”
                 

Livros: “O Perfume – a história de um assassino”
Autor: Patrick Süskind
Editora: Record
             “O caminho Jedi”
Autor: Daniel Wallace
Tradução: Raquel Novaes
Editora: Bertrand Brasil


Séries:Castlevania”
               “Fullmetal Alchemist Brotherhood”
               “Os Pilares da Terra”
               “Mundo sem fim”
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FONTE: SOUSA, R. M. CRUZ, T. M. G. S. Alquimia, um resgate Histórico, Técnico e Cultural. Monografia/Projeto de Curso para obtenção do título de Pós-Graduação “Lato Senso” em Ensino de Química, pela Universidade Estadual de Goiás – UEG, na Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, sob orientação da Professora Mestre Luciana Pereira Marques, em 2004.

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